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Rachados e em Guerra: Auditores Fiscais de Pernambuco Enfrentam Crise Sem Precedentes

Paridade entre ativos e aposentados, verbas indenizatórias e vencimentos acima do teto acirram disputa interna na categoria; diretoria é destituída em assembleia tumultuada

A tradicional união dos auditores fiscais do Estado de Pernambuco deu lugar a uma profunda divisão. A categoria, peça-chave para a arrecadação e o equilíbrio fiscal do governo estadual, vive uma crise sem precedentes. Um acordo firmado com o Executivo para reestruturar a remuneração dos servidores desencadeou uma batalha interna, culminando na destituição da diretoria do sindicato em uma assembleia extraordinária marcada por tensão e judicialização.

O epicentro da crise foi a decisão da diretoria sindical de aceitar uma proposta do Governo do Estado que substitui parte das verbas remuneratórias por auxílios indenizatórios, como o auxílio alimentação e o auxílio saúde. O novo modelo foi bem recebido por parte dos auditores ativos, uma vez que esses auxílios, por não estarem sujeitos ao teto constitucional, aumentariam os valores líquidos recebidos.

No entanto, o entusiasmo durou pouco. Auditores aposentados, que ficaram excluídos do auxílio alimentação, denunciaram uma quebra do princípio da paridade, que garante isonomia entre servidores ativos e inativos. A exclusão, para eles, representa uma afronta a direitos conquistados com décadas de luta sindical.

A insatisfação dos aposentados deu origem ao grupo “Paridade”, que rapidamente se organizou e passou a exigir a renegociação do acordo com o governo. Com amplo apoio entre os inativos e servidores próximos da aposentadoria, o grupo conquistou protagonismo nas deliberações da categoria.

Tentativas de diálogo com o Executivo foram frustradas. Sem avanços, o movimento passou a articular uma mudança no comando da entidade sindical. A tensão escalou e resultou numa disputa judicial, com liminares impetradas de ambos os lados na tentativa de validar ou impedir decisões internas.

Apesar da guerra jurídica, uma assembleia extraordinária foi realizada na última quinta-feira (5). Nela, a atual diretoria, responsável por firmar o polêmico acordo, foi destituída com forte apoio do grupo “Paridade”. Os críticos acusam a antiga gestão de comprometer a unidade da categoria e de legitimar um modelo de remuneração que exclui parte dos filiados.

Em meio ao confronto entre ativos e aposentados, uma terceira vertente vem ganhando espaço. Formado por auditores que se opõem ao acordo em qualquer formato, esse grupo questiona a legitimidade ética do recebimento de valores mensais que, com os novos auxílios, podem ultrapassar o teto de R$46.366,19.

Para esses servidores, a discussão sobre paridade é legítima, mas não pode mascarar um debate mais profundo: o de que verbas públicas devem obedecer a critérios de justiça social e razoabilidade, especialmente em um estado com desafios socioeconômicos como Pernambuco.

A crise institucional segue sem desfecho. A diretoria destituída promete acionar a Justiça para reverter a decisão da assembleia, enquanto novos embates jurídicos já são aguardados nos bastidores.

O momento é de incerteza. A imagem pública da categoria está abalada, e os desentendimentos internos comprometem a confiança da sociedade em um setor essencial para o funcionamento do Estado.

Para o contribuinte pernambucano, uma pergunta persiste: como confiar numa estrutura fiscal dividida por interesses e incapaz, ao menos por ora, de encontrar consenso em torno do próprio futuro?

Marcus Oliveira

Marcus Oliveira

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