Na contramão do que se espera de uma administração pública comprometida com o bem-estar da população, a Prefeitura de Camaragibe, sob o comando do Prefeito Diego Cabral (Republicanos), parece viver um momento de prioridades invertidas. Enquanto a cidade clama por melhorias básicas em áreas como saúde, por exemplo, o governo municipal anuncia com entusiasmo uma programação de sete dias de festa para comemorar os 43 anos de emancipação da “Terra dos Camarás”.
Não é sobre ser contra a cultura ou os festejos populares, que inclusive o Prefeito promete resgatar. Eles têm seu valor, especialmente em um estado como Pernambuco, rico em manifestações culturais. O problema é o desequilíbrio. Como justificar uma estrutura milionária de shows, som e palco, quando moradores enfrentam filas intermináveis para atendimento médico, unidades de saúde sucateadas e ausência de profissionais de saúde e insumos? É como se a cidade comemorasse a própria história enquanto ignora as dores do presente.
Mais grave ainda é a falta de clareza na gestão dos recursos. O Portal da Transparência municipal, que deveria ser uma ferramenta de acesso e controle social, se mostra ineficaz, confuso e, muitas vezes, desatualizado. O cidadão comum, que paga seus impostos, precisa de um especialista para entender como a máquina pública está funcionando — ou deixando de funcionar.
Vale salientar que, de acordo com pesquisa feita nos processos administrativos da Prefeitura, só de cachê para pagamento dos profissionais do setor artístico, a Fundação de Cultura vai desembolsar 1,5 milhão de reais, para as festividades do aniversário de 43 anos da cidade.
E onde está o Tribunal de Contas do Estado? Até quando vai tolerar a baixa transparência da atual gestão, que se destaca negativamente desde a emancipação do município? A fiscalização precisa ser efetiva, e não apenas protocolar. Não se pode aceitar que um governo utilize a cultura como cortina de fumaça para mascarar a ineficiência administrativa. Quais projetos efetivos e de curto prazo estão em andamento?
É preciso, sim, celebrar a história de Camaragibe. Mas celebrar não pode ser sinônimo de negligenciar. É hora da população cobrar com mais força, exigir explicações e pressionar por uma gestão que priorize o essencial. Saúde, educação, segurança e mobilidade não são luxo, são direitos. Cultura se celebra, mas o povo se respeita. Que os 43 anos de emancipação sirvam de reflexão, e não apenas de festa.