A promessa de construir creches em Pernambuco, feita ainda durante a campanha da governadora Raquel Lyra (PSD), se transformou em um dos maiores símbolos de frustração de sua gestão. O plano ambicioso de erguer 250 unidades em todo o estado, batizado popularmente de “Racreche”, virou sinônimo de promessa não cumprida.
De acordo com dados apresentados pelo deputado Antonio Coelho (União Brasil), na Assembleia Legislativa, das 250 creches anunciadas, 192 tiveram licitação lançada, mas apenas 48 receberam ordem de serviço, e nenhuma foi concluída até o momento. Segundo o parlamentar, muitas obras estão paralisadas e o governo não tem apresentado transparência sobre o andamento dos contratos.
“Só foram pagos efetivamente R$ 17 milhões de um total de R$ 1,1 bilhão. Em outras palavras, menos de 1,5% de todo o valor destinado a essa importante iniciativa”, denunciou Antonio Coelho, chamando atenção para o baixo ritmo de execução e a falta de planejamento orçamentário.
Em entrevista à Rádio Transamérica, Raquel Lyra tentou justificar o atraso, afirmando que algumas pessoas “trabalham contra” e “torcem contra” seu governo, sem citar nomes. A declaração, no entanto, soou como um desrespeito às milhares de famílias que esperam por vagas para seus filhos e dependem dessas creches para poder trabalhar.
Mesmo após três anos de governo, a gestora voltou a prometer entregas das creches, mas não explicou como está o processo licitatório, preferindo citar outras ações, como a compra de ônibus escolares no valor de R$ 1 bilhão. A fala levantou ainda mais questionamentos: de que adianta o transporte, se não existem escolas e creches suficientes para receber os alunos?
O RETRATO DA CAPITAL: CAOS E RODÍZIO NAS CRECHES DO RECIFE
Na capital pernambucana, administrada por João Campos (PSB), o cenário não é mais animador. A rede municipal enfrenta falta de professores e estruturas precárias em várias creches. A crise é tamanha que algumas unidades adotaram um rodízio de alunos, obrigando pais a manter os filhos em casa em determinados dias por falta de profissionais para atendê-los.
A medida, que veio acompanhada de uma tabela de rodízio distribuída aos responsáveis, gerou revolta e prejuízos às famílias que dependem das creches para poder trabalhar. Muitos pais relatam que não têm com quem deixar os filhos, sendo obrigados a faltar ao emprego.
Enquanto o Governo do Estado não entrega as creches prometidas e a Prefeitura do Recife falha em manter as existentes funcionando plenamente, o que se vê é um pacto silencioso de ineficiência, que afeta diretamente as famílias pernambucanas.
Entre promessas não cumpridas e desculpas políticas, quem continua pagando a conta são as crianças, e os pais que sonham apenas com o básico: uma vaga em uma creche digna.