Nove anos sem Beatriz e a luta incansável de uma mãe por justiça
- De: Marcus Oliveira
- dezembro 10, 2024

Em 10 de dezembro de 2015, a pequena Beatriz Angélica Mota, de apenas sete anos, foi brutalmente assassinada dentro do Colégio Maria Auxiliadora, em Petrolina, durante uma festa de formatura. O crime, cometido em um ambiente que deveria ser seguro, abalou profundamente o Brasil e marcou o início de uma das mais notórias batalhas por justiça no país.

Para Lucinha Mota, mãe de Beatriz, o tempo não trouxe o conforto da superação. Pelo contrário, foram nove anos de dor, indignação e resistência. A luta dessa mãe incansável ultrapassou os limites do Vale do São Francisco, percorrendo todo o estado de Pernambuco e até outros estados, em busca de respostas que as autoridades locais não conseguiram — ou não quiseram — oferecer.
O descaso das autoridades e a investigação paralela
Desde o início, a investigação do caso foi marcada por falhas e omissões das autoridades de segurança pública de Pernambuco. Com o passar dos anos e a falta de avanços significativos, Lucinha, ao lado de seu esposo Sandro Romilton, decidiu assumir o protagonismo da busca por justiça.
A decisão não foi fácil. Após o crime, Lucinha passou pelo pior drama que uma mãe pode vivenciar: a perda violenta de sua filha e a frustração diante da inércia do sistema. Em seus depoimentos, ela revela que chegou a cogitar tirar a própria vida diante do vazio insuportável. No entanto, foi na dor que encontrou força para reagir.
Lucinha iniciou uma investigação paralela, movida por um amor incondicional e pelo compromisso de honrar a memória de Beatriz. Ela buscou apoio de amigos, da sociedade civil e até de órgãos internacionais. Em um ato de extrema coragem e determinação, Lucinha realizou em 2021 uma caminhada de mais de 700 km, de Petrolina ao Palácio do Campo das Princesas, no Recife, exigindo que o governo estadual desse atenção ao caso.

Foi nesse processo que ela conseguiu pressionar as autoridades a realizarem a análise do DNA coletado na arma do crime. O resultado foi contundente: o material genético apontou para Marcelo da Silva, um homem que já estava preso por outro assassinato brutal de uma criança em Trindade, Pernambuco.
O acusado: Marcelo da Silva
Marcelo da Silva foi identificado como o autor do crime após a comparação do DNA encontrado na faca utilizada no assassinato de Beatriz. Preso em 2022, ele confessou o crime em depoimento oficial. Apesar das evidências — incluindo a confirmação científica do DNA —, o caso ainda enfrenta resistência de setores da sociedade que insistem em teorias alternativas ou desacreditam das investigações.
O próximo capítulo dessa longa e dolorosa história está previsto para fevereiro de 2025, quando Marcelo deverá ser submetido ao júri popular. Será o momento de apresentar, diante da sociedade, todas as provas e testemunhos que apontam para sua autoria no assassinato de Beatriz.
A morosidade da justiça e o sofrimento contínuo
A espera pelo desfecho do caso intensifica o sofrimento da família. Lucinha e Sandro seguem firmes, mas a morosidade do sistema judicial prolonga o luto e a sensação de impunidade. “Não há um dia em que eu não sinta a ausência de Beatriz, mas o que me move é a necessidade de justiça. Minha filha merece isso”, declarou Lucinha em recente entrevista.
O legado de uma luta
Mais do que uma batalha por justiça, a trajetória de Lucinha Mota tornou-se um símbolo de resiliência e coragem. Sua determinação mobilizou a sociedade e expôs as fragilidades do sistema de segurança e justiça no Brasil.

Lucinha se transformou numa referência para outras famílias que enfrentam o luto e a luta por respostas. Sua história inspira movimentos por justiça, segurança e direitos humanos em todo o país.
Enquanto o julgamento de Marcelo da Silva não ocorre, Lucinha e sua família permanecem aguardando, com esperança, que a verdade prevaleça e que Beatriz, finalmente, descanse em paz. O que começou como um grito de dor transformou-se em uma causa pela justiça, não apenas para Beatriz, mas para todas as vítimas de violência e suas famílias.
Hoje, a memória de Beatriz Angélica Mota é um chamado à ação. Sua história nos lembra que a luta por um Brasil mais justo e seguro não pode ser apenas da família de uma vítima. É uma causa coletiva, que precisa ser abraçada por toda a sociedade.
Enquanto Beatriz descansa, o Brasil luta. Por ela, por Lucinha, por cada vida interrompida pela violência, e por um futuro onde a justiça não seja privilégio, mas um direito real e acessível a todos.
Por Marcus Oliveira