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Governo testa “Plantão Virtual” em delegacias e projeto já preocupa: “Tem tudo para dar errado”

Apesar de oficialmente ainda constar como “em fase de planejamento”, o projeto do governo estadual intitulado “Plantão Virtual”, já estaria em operação em diversas unidades da Polícia Civil, segundo fontes internas. A proposta, que visa transferir o atendimento de delegados e escrivães para o formato remoto, tem gerado forte apreensão entre profissionais da segurança pública.

Na prática, o Plantão Virtual significa que delegados de polícia e escrivães passarão a lavrar ocorrências de casa, a partir de informações enviadas pelos agentes que recebem os cidadãos presencialmente nas delegacias. Em tese, o modelo permitiria que um único delegado possa atender simultaneamente a até 20 delegacias, especialmente aquelas sem titular fixo, um cenário comum no interior do estado.

Atendimento desumanizado

O projeto tem sido duramente criticado por intensificar a política da frieza no atendimento ao público. A população não terá mais acesso direto à autoridade policial, principalmente em casos delicados como flagrantes e medidas protetivas. O delegado não verá o preso presencialmente, apenas por videoconferência. Já o preso será encaminhado ao IML para o exame de corpo de delito, sem ter contato com a autoridade responsável pela lavratura do flagrante.

“Essa lógica do virtual pode até parecer modernização, mas o que se esconde por trás é um desmonte da estrutura de atendimento direto à população, que já é precária. O delegado não vai enxergar o contexto do flagrante, a condição da vítima, do agressor, nem avaliar sinais não verbais que muitas vezes são essenciais na condução de uma ocorrência”, aponta uma fonte da Polícia Civil.

Economia a qualquer custo?

Fontes apontam, ainda, que a medida está sendo vendida internamente como uma forma de reduzir gastos com pessoal. Em vez de manter cinco delegados para cobrir cinco regiões, por exemplo, o governo passaria a pagar apenas um profissional para atender todas elas remotamente. Um modelo centralizado, enxuto e com alto risco de colapso humano e técnico.

Outro problema é o número reduzido de agentes nas delegacias. Atualmente, há delegacias com apenas dois agentes por turno, o que compromete não apenas a triagem das ocorrências, mas também a segurança do ambiente e o fluxo de atendimento em situações de maior demanda.

Mulheres em situação de violência: quem vai ouvir?

Casos de violência doméstica também devem ser impactados pelo novo modelo. Em vez de encontrar uma delegada ou delegado disponível para acolher e orientar presencialmente, a vítima fará um relato a um agente e aguardar pela resposta remota da autoridade, que pode estar atendendo simultaneamente dezenas de ocorrências em outras regiões.

“É desumano. Já é difícil para uma mulher vítima de violência criar coragem para denunciar. Imagine agora ter que fazer isso sem sequer olhar nos olhos da autoridade que vai determinar uma medida protetiva”, destaca uma servidora da área de segurança pública.

O futuro da investigação à distância

Além do flagrante, a investigação e a apuração dos fatos também devem ser prejudicadas. Com o distanciamento físico, perde-se o olhar investigativo in loco do delegado, a observação direta do contexto e das contradições nos depoimentos. O resultado, segundo servidores, será um sistema ainda mais moroso e ineficiente.

Embora o governo defenda que o Plantão Virtual moderniza e otimiza a estrutura policial, a ausência de diálogo com a base da segurança pública e a pressa na implementação do modelo indicam que a proposta pode representar mais um retrocesso do que um avanço.

Enquanto isso, o cidadão segue cada vez mais distante da figura da autoridade policial. Um afastamento que, para muitos, simboliza a erosão da presença do Estado onde ela é mais necessária.

Em nota a Polícia Civil do estado informou que o projeto encontra-se em fase de planejamento.

Por Carlinhos Bragança

Marcus Oliveira

Marcus Oliveira

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