Um vídeo do atual presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), deputado Álvaro Porto (PSDB), viralizou nas redes sociais. Nele, o deputado condena veementemente as gestões do ex-prefeito do Recife, Geraldo Julio e do atual João Campos, ambos do PSB. Com tom indignado, o parlamentar critica o que chama de “desgoverno”, adotado pelo PSB no estado e na capital e afirma que os gestores “torcem para não chover”, fazendo alusão à forma como os temporais escancaram os problemas de infraestrutura herdados de administrações passadas.
Para o deputado, os prejuízos causados pelas fortes chuvas são fruto direto do “desgoverno” não só dos prefeitos, mas também do ex-governador Paulo Câmara, igualmente do PSB. A fala, embora carregada de críticas contundentes, ecoou o sentimento de muitos recifenses, que convivem anualmente com os alagamentos, deslizamentos e a sensação de abandono em diversos bairros da cidade.
Mas a crítica não parou por aí. O que chamou atenção foi a guinada recente no discurso de Álvaro Porto. Ultimamente, o mesmo deputado vem subindo à tribuna da ALEPE — agora, para criticar a atual gestão da governadora Raquel Lyra (PSDB), com quem dividia palanque até pouco tempo atrás. A postura levanta questionamentos: estaria o parlamentar praticando a “política da ocasião”, adaptando seu discurso conforme os ventos políticos? Ou haveria coerência em sua nova posição?
A pergunta que não quer calar: o problema está na gestão ou na conveniência do discurso?
Álvaro Porto foi eleito sob a bandeira da oposição ao PSB, um partido que governou o estado por mais de 15 anos. Suas críticas ao legado deixado por essa gestão fazem parte de uma narrativa já conhecida. No entanto, quando o mesmo tom é usado contra uma aliada recente, como Raquel Lyra, surge a dúvida: há rompimento político ou estratégia para marcar posição e ampliar protagonismo?
É legítimo e até necessário que parlamentares exerçam seu papel fiscalizador, cobrando melhorias de qualquer governo. Mas, quando as críticas parecem saltar de alvo em alvo conforme o contexto político, a coerência do discurso é colocada em xeque. Ainda mais quando se trata de um líder do Legislativo estadual, cuja fala ecoa com força entre aliados e opositores.
No fim das contas, o povo, esse sim, continua enfrentando os mesmos problemas. Continua pisando na lama das ruas mal cuidadas, vendo casas serem invadidas pelas águas e convivendo com promessas que se desfazem tão rápido quanto os discursos inflamados nas tribunas.
Se a chuva tem o poder de derrubar máscaras, talvez também esteja nos mostrando, ano após ano, quem são os verdadeiros aliados da população — e quem apenas busca espaço no teatro político de ocasião.