A Polarização Construída pela Mídia em Pernambuco: Um Obstáculo à Democracia?
- De: Marcus Oliveira
- janeiro 5, 2025

A política brasileira, de norte a sul, tem sido dominada por cenários de polarização. Se, em 2022, vimos a disputa presidencial ser reduzida a dois personagens — Lula e Bolsonaro —, agora, em Pernambuco, um teatro semelhante emerge entre a governadora Raquel Lyra e o prefeito do Recife, João Campos.
Essa polarização, turbinada por uma narrativa midiática estratégica, pouco contribui para o fortalecimento da democracia e, ao contrário, levanta preocupações sobre os reais interesses que sustentam tal dinâmica.
Por um lado, temos Raquel Lyra, à frente do governo estadual, com recursos e projetos em andamento, mas prejudicada por uma equipe de comunicação ineficiente e pela falta de habilidade para construir uma narrativa convincente de crescimento e avanço. Sua gestão, ainda centralizadora, parece acéfala em termos de articulação política, que ainda acerta por motivos óbvios: políticos medrosos e sem ousadia, que aguardam para o último momento o “grande dia” da traição. Com isso, Raquel abre grandes lacunas que são rapidamente preenchidas pelos críticos.
Do outro lado, João Campos se destaca pelo marketing positivo e pela manutenção de uma imagem pública forte, amplamente sustentada pela herança política de seu pai, Eduardo Campos. Não à toa, o prefeito é frequentemente associado ao termo “nepo baby”, que denuncia seu privilégio em navegar na política com base no legado familiar, mais do que em méritos próprios. Sua habilidade em capitalizar ações de visibilidade pública é inegável, mas até que ponto sua gestão se sustenta para além do espetáculo midiático?
O mais preocupante, entretanto, é o silêncio ensurdecedor dos partidos e dos políticos, assim como outros possíveis candidatos ao governo de Pernambuco. Isso porque a “corte”, de onde saem os grandes recursos e grandes apoios, encabeçada pelo Presidente Lula, ainda não tomou partido, o que refreia os lobos ferozes que aguardam suas solturas. Essa omissão não é apenas estratégica — é também uma irresponsabilidade diante do cenário democrático.
A polarização entre Lyra e Campos não se limita a um embate de ideias, mas transforma o espaço político em uma arena para conflitos rasos e simplistas, deixando de lado debates mais complexos e necessários para o desenvolvimento do estado.
A atuação das redes sociais nesse contexto é outro elemento central. Amplamente manipuladas por narrativas construídas, as plataformas se tornam espaços de desinformação e manipulação de percepções. Essas histórias muitas vezes têm um preço, e não é difícil imaginar os interesses financeiros por trás da visibilidade de determinados discursos. Quando a política se transforma em espetáculo e a mídia se coloca como protagonista desse enredo, o que resta é uma confusão mental coletiva, impulsionada pela ambição de alguns poucos.
A democracia, que deveria ser fortalecida pelo debate plural e pela diversidade de opções, torna-se refém de um cenário binário, sem espaço para alternativas reais. Essa construção de narrativas polarizadas desestimula a participação política consciente e reduz o eleitorado a espectadores de um jogo já desenhado nos bastidores.
O futuro dessa história ainda está em aberto, mas uma coisa é certa: sem mudanças significativas na forma como a política é conduzida e comunicada, o estado de Pernambuco corre o risco de repetir erros históricos, sacrificando seu potencial de crescimento e inovação em prol de disputas que só favorecem os interesses de quem as orquestra. O povo merece mais do que isso — merece opções reais, debates honestos e um sistema político que valorize a democracia em sua essência.
Por Marcus Paulo