Articulação política desastrosa no Sertão confunde até aliados de Raquel Lyra
- De: Marcus Oliveira
- novembro 5, 2025
Parece que a postura austera da governadora Raquel Lyra em relação a comunicação de sua equipe política vem se desintegrando, dando espaço a liberalidade desenfreada, sobretudo no Sertão do estado. A nova postura, porém, tem despertado críticas, e levantado sérias dúvidas sobre os limites éticos dessa atuação.
A principal polêmica gira em torno da nomeação do blogueiro Carlos Brito, figura bastante conhecida no Sertão do São Francisco por sua longa trajetória na imprensa. O jornalista, agora com cargo comissionado no governo estadual, rapidamente se autointitulou “porta-voz do Sertão”. Aparentemente, a ideia seria fortalecer a presença política da governadora na região, onde Raquel ainda enfrenta dificuldades para consolidar representatividade.
Mas o tiro parece ter saído pela culatra. Ao contrário de outros comissionados, que são orientados a manter discrição nas redes sob risco de repreensão, Brito tem se manifestado livremente, e em excesso. O curioso é que suas publicações não miram apenas os adversários políticos da governadora, o que já seria questionável para um servidor público, mas também criticam a própria gestão estadual.
São inúmeras as matérias e postagens em seu portal pessoal, em que o blogueiro ataca de forma direta ou velada pautas negativas do governo Raquel Lyra. Um exemplo recente foi a entrevista concedida ao seu blog pelo conselheiro da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Osmar Torres, que denunciou a superlotação do Hospital de Traumas, responsabilizando a falta de hospitais estaduais para atender à demanda do Sertão. E quem estava lá concordando com cada palavra?
Como se não bastassem as contradições, o ápice da controvérsia veio quando Carlos Brito rasgou elogios públicos à ex-deputada Marília Arraes, principal opositora política da governadora. Em seu blog, o comissionado chegou a destacar pesquisas que apontaram Marília como nome bem posicionado para uma possível candidatura ao Senado, referindo-se a ela como “amiga”.
Diante de tantos desencontros, surgem perguntas inevitáveis: Existe de fato uma estratégia de comunicação e representação do governo, no Sertão? Ou tudo não passa de mais um movimento improvisado e desorganizado, sem alinhamento político ou institucional?
O que deveria ser uma nomeação estratégica acabou se transformando em um “presente de grego” para Raquel Lyra. O blogueiro, que deveria atuar como aliado, tornou-se uma figura polêmica, cuja independência editorial tem causado mais ruído do que resultado.
Mas o debate não para na incoerência política. Há também um questionamento ético e jurídico importante: um servidor público pode utilizar um veículo de comunicação pessoal para promover um grupo político e atacar outro?
Pelo princípio da moralidade administrativa, previsto no artigo 37 da Constituição Federal, todo agente público deve pautar sua conduta não apenas pela legalidade, mas também pela ética, imparcialidade e interesse público. Se um comissionado usa sua influência para interferir no debate político de forma partidária, há violação dos princípios da moralidade e da impessoalidade, mesmo que não haja crime configurado.
O que se observa, portanto, é um cenário de desordem política e moral no Sertão, onde o governo estadual parece ter perdido o controle da própria narrativa. Pode até não resultar em consequências práticas, mas uma coisa é certa: está tudo muito estranho.





