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Morte, torturas e silêncio em Buíque: Família de detenta expõe carta deixada por reeducanda e mãe não acredita na teoria de suicídio. Entenda!

Um conjunto de relatos obtidos com exclusividade pelo Correio de Notícias, revela um cenário alarmante dentro da Colônia Penal Feminina de Buíque, no Agreste de Pernambuco.

Ex-detentas e familiares denunciam torturas, maus-tratos, castigos desumanos e mortes sob circunstâncias suspeitas, entre elas, a da reeducanda Mychelline Martins da Silva, encontrada morta dentro da unidade.

De acordo com os testemunhos, a rotina no presídio é marcada pela violência e pela humilhação. “Isso não é nada comparado com o que eles ‘faz’. Lá tem um agente chamado ‘Ugo’, que por qualquer coisa bate no peito e fala que é ‘pra’ dar logo um ‘tomou’. E a doutora Mônica cospe na cara das detentas e fala que a gente não vale nem uma cuspida”, relatou uma ex-detenta.

Segundo ela, os castigos envolvem ficar nua em celas isoladas, sob vigilância constante. “Quando ‘vai pro’ castigo a gente fica nua, sem nada. Dizem que é pra não fazer suicídio, mas os agentes batem na cabeça pra não deixar trauma no corpo. É muita humilhação.”

Outro relato reforça o clima de terror: “Eles batem muito na gente, colocam no boi, deixam sem comer, torturam de verdade. Buíque é a pior cadeia que existe. Se existe um inferno, se chama Buíque”, lamentou outra ex-detenta, em depoimento nas redes sociais.

“Bico fechado” e caixão Lacrado

As denúncias também indicam omissão na morte de Mychelline. Dentro da unidade, circula a versão de que a detenta teria sido morta por outra presa, teoria defendida pela mãe da vítima. Ex-internas afirmam que os gestores da cadeia ordenaram silêncio absoluto. “Mandaram todo mundo ficar de bico fechado pra não prejudicar mais ainda”, contou uma fonte.

A família da vítima denuncia que não pôde ver o corpo, que foi sepultado em caixão fechado. O acesso ao Instituto de Medicina Legal (IML) também foi negado, e o atestado de óbito teria sido trocado após um erro inicial. “Não houve exame de corpo de delito nem necropsia para apurar o ocorrido”, aponta o relato.

Uma carta entregue por Mychelline, coloca em dúvida a possibilidade de suicídio. Datada de 25/10, um dia antes de sua morte, a reeducanda expõe dificuldades dentro da unidade e relata que sua transferência se deu por conta de “indiscrições” do marido da diretora da Colônia Penal do Bom Pastor, em Recife. A carta foi direcionada a um possível magistrado com sobrenome Saraiva. Um mistério envolve a morte de Mychelline, que só uma investigação pode solucionar. Porque o caixão foi lacrado? Por que houve erro no primeiro certificado de óbito? Por que ela tiraria sua própria vida um dia depois de escrever uma carta para um suposto juíz?

Falta de defesa e superlotação

Mychelline estava presa havia seis meses por furto (artigo 155 do Código Penal). Segundo pessoas próximas, nunca teve acesso a advogado nem a defensor público, reflexo da crônica falta de profissionais da Defensoria em unidades prisionais do estado. Essa carência estrutural é apontada como uma das causas da superlotação e da violação de direitos.

Questionamentos ao Governo de Pernambuco

As denúncias levantam sérias questões sobre a responsabilidade do Governo do Estado de Pernambuco, por meio da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização, quanto à integridade física e psicológica das mulheres privadas de liberdade. Que medidas estão sendo adotadas para apurar as denúncias de tortura e maus-tratos na Colônia Penal Feminina de Buíque? Por que a morte de Mychelline não passou por exame pericial adequado, como exige a legislação? Há acompanhamento independente da Ouvidoria da SEAP e dos Direitos Humanos ou do Ministério Público, nas apurações internas das unidades prisionais? O governo reconhece a falta de Defensores Públicos e o impacto disso na violação dos direitos fundamentais dos presos?

Até o momento, a reportagem não obteve resposta oficial do Governo de Pernambuco sobre as denúncias. O caso reacende o debate sobre a crise do sistema penitenciário feminino e a urgência de uma investigação transparente e independente.

Enquanto as famílias clamam por justiça, a pergunta que ecoa entre os muros do presídio permanece sem resposta: quem responde pelas vidas e pelas vozes silenciadas em Buíque?

Procuramos a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Prevenção à Violência para saber sobre a atuação do Mecanismo de Combate à Tortura, mas não recebemos resposta.

Solicitamos uma nota de esclarecimento à Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização para saber sobre os procedimentos do funeral e dos exames técnicos, mas não tivemos retorno.

Procuramos a Polícia Civil para saber sobre a perícia técnica e a investigação, mas não tivemos retorno.

Procuramos o Ministério Público de Pernambuco para saber se houve denúncia de algum órgão de defesa, mas não tivemos retorno.

Procuramos a Defensoria Pública para saber sobre a inoperância e ausência de defensores na atuação dentro do sistema prisional, mas não tivemos retorno.

Marcus Oliveira

Marcus Oliveira

Sobre o Autor

O Portal Correio de Notícias, liderado pelo jornalista Marcus Oliveira desde sua fundação em 2019, é referência em jornalismo ético e imparcial em Pernambuco. Com foco em política, cidades, entretenimento e opinião, o canal se consolida como uma fonte confiável, conectando e informando os pernambucanos com credibilidade e inovação.

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