A Proposta de Emenda à Constituição apelidada de “PEC da Blindagem”, escancarou o que boa parte da população já suspeitava: muitos parlamentares que se apresentam como defensores do povo, na prática, defendem apenas a si mesmos e seus interesses. O texto aprovado na Câmara dos Deputados cria um escudo quase impenetrável para políticos acusados de crimes comuns, colocando em xeque não só a moralidade, mas também a credibilidade do Congresso Nacional.
Em Pernambuco, o resultado da votação foi revelador. Apenas cinco deputados federais que representam o estado, no Congresso Nacional, se colocaram contra a medida; os demais votaram a favor, em sintonia com um Congresso que parece cada vez mais distante da sociedade e cada vez mais próximo da proteção ao crime institucionalizado. Não demorou para a opinião pública reagir com indignação.
A JUSTIFICATIVA QUE NÃO CONVENCE
A alegação inicial para propor a PEC foi a de proteger parlamentares em seus pronunciamentos. Mas o detalhe que os próprios congressistas tentaram esconder é que a Constituição já garante esse tipo de imunidade. O que se viu, portanto, foi uma manobra para estender privilégios e criar uma blindagem absurda: até mesmo autoridades acusadas de crimes como pedofilia, homicídio e corrupção poderão contar com o manto protetor do Congresso, que decidirá corporativamente se o processo chegará ou não ao Supremo Tribunal Federal.
A POLÍTICA SEM MÁSCARAS
O que mais chamou a atenção nesse episódio foi a união quase uníssona entre diferentes ideologias políticas. Direita, esquerda e centro se encontraram em um ponto comum: a AUTOPRESERVAÇÃO. Nesse instante, as máscaras caíram. Deputados que passaram anos cultivando narrativas de defesa da população, viram seus discursos desmoronar. A máxima popular “farinha pouca, meu pirão primeiro” nunca fez tanto sentido.
A VOZ DISSONANTE
Em meio ao cenário de autoproteção, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, foi uma das poucas a se manifestar de forma contrária. Em entrevista, afirmou que a Constituição já define como deve ocorrer a tramitação de investigações e destacou:
“A gente precisa preservar a nossa Constituição”.
Segundo ela, não há diálogo possível com a ideia de conceder blindagem a políticos acusados de crimes. Uma posição que contrasta com a passividade, ou conveniência, da maioria dos representantes pernambucanos no Congresso.
UMA FERIDA ABERTA NA DEMOCRACIA
A PEC da Blindagem deixa uma marca dolorosa: a certeza de que parte significativa dos parlamentares age em defesa de um sistema autorreferente e autoritário, onde a prioridade é blindar criminosos de terno e gravata. A população, por sua vez, segue cada vez mais revoltada com um Congresso que rasga a moralidade pública e mostra, sem pudor, que o povo só serve como escada no período eleitoral.
Por Marcus Paulo